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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Eduardo VI


  • nasceu no Palácio de Hampton Court a 12 de outubro de 1537  
  • faleceu a 6 de julho de 1553

foi  Rei da Inglaterra e Irlanda de 1547 até sua morte.

Filho do rei Henrique VIII com Joana Seymour, Eduardo foi o terceiro monarca da Casa de Tudor e o primeiro rei inglês criado como protestante. O país foi comandado durante seu reinado pelo Conselho Regencial, já que ele nunca atingiu a maioridade, liderado primeiramente por Eduardo Seymour, 1.º Duque de Somerset, e depois por João Dudley, 1.º Duque de Northumberland.

O reinado de Eduardo foi marcado por problemas econômicos e agitações sociais que levaram a tumultos e rebeliões em 1549. Uma guerra contra a Escócia, inicialmente bem sucedida, terminou com uma retirada do país e de Bolonha-sobre-o-Mar em troca da paz. A transformação da Igreja Anglicana num órgão reconhecidamente protestante também aconteceu no reinado de Eduardo, que se interessou muito por assuntos religiosos. Apesar de Henrique VIII ter rompido a ligação entre a Igreja da Inglaterra e Roma, nunca permitiu a rejeição à doutrina católica ou suas cerimônias. Durante o reinado de Eduardo estabeleceu-se o protestantismo pela primeira vez na Inglaterra com reformas que incluíam a abolição das missas e a reformulação da eucaristia. O arquiteto dessas mudanças foi Tomás Cranmer, o Arcebispo da Cantuária.

Eduardo adoeceu em fevereiro de 1553. Ao descobrir que era uma doença terminal, ele e seu conselho redigiram a "Elaboração para a Sucessão", tentando impedir que a Inglaterra voltasse ao catolicismo. Nomeou a prima Joana Grey como herdeira, excluindo suas meia-irmãs Maria e Isabel. Porém, depois de sua morte em 6 de julho, Maria depôs Joana. Ela reverteu as reformas protestantes de Eduardo, que mesmo assim se tornaram a base para a Resolução religiosa de Isabel em 1559.


  • O príncipe Eduardo em 1539.
Todo o reino recebeu o nascimento de um herdeiro homem, "por quem ansiávamos há tanto tempo", com grande alegria e alívio. Te Deums foram cantados em igrejas e fogueiras acesas. 

A rainha Joana, recuperou rapidamente do nascimento, enviou pessoalmente cartas assinadas por ela anunciando o nascimento de "um Príncipe, concebido no matrimônio mais legítimo entre meu Senhor a Majestade do Rei e eu".

 Eduardo foi batizado no dia 15 de outubro, acompanhado de suas meia-irmãs: Maria como madrinha e Isabel. 

Entretanto, a rainha adoeceu no dia 23 de outubro, presume-se de complicações pós-natais, e morreu na noite seguinte. Henrique escreveu ao rei Francisco I da França que a "Divina Providência… misturou minha alegria com a amargura da morte daquela que me trouxe esta felicidade".


  • Crescimento e educação

O príncipe Eduardo em 1546.

Eduardo foi um bebê saudável que desde o início amamentou muito. Seu pai ficou encantado com ele; Henrique escreveu em maio de 1538 que "divertindo-o com seus braços… e então segurando-o numa janela para a vista e conforto do povo". Em setembro, Tomás Audley, Lorde Chanceler, afirmou que Eduardo estava crescendo rapidamente e com vigor; noutros relatos ele é descrito como uma criança alta e alegre. 

Aos quatro anos de idade, ele adoeceu com uma potencialmente letal "febre quartenária", entretanto, apesar de alguma doença ocasional e visão ruim, ele sempre teve boa saúde até os último meses de vida.

Acredita-se que sua educação religiosa tenha sido reformista.  Sua orientação religiosa foi provavelmente escolhida pelo arcebispo Tomás Cranmer, um dos principais reformistas. 


  • O emblema do príncipe Eduardo.
Henrique convidou seus filhos para passarem o Natal de 1543 junto com ele, sinalizando uma reconciliação com as filhas que havia anteriormente deserdado e ilegitimizado

Na primavera, ele as recolocou na linha de sucessão através da Terceira Lei de Sucessão, que também garantia um conselho regencial durante a minoridade de Eduardo.

Essa harmonia familiar desacostumada deve-se muito a influência da sexta e última esposa de Henrique, Catarina Parr, aquem Eduardo logo se afeiçoou. Ele a chamava de sua "mais querida mãe" e em setembro de 1546 escreveu-lhe: "Recebi tantos benefícios de ti que minha mente mal pode compreendê-los"


  • "O Rude Cortejo"

Henrique VIII assinou o Tratado de Greenwich com os escoceses em 1 de julho de 1543, selando a paz com o noivado de Eduardo e a rainha Maria da Escócia, então com apenas sete meses de idade. 

Os escoceses estavam em posição ruim para negociar depois da derrota em Solway Moss no mês de novembro, e Henrique, desejando unir os dois reinos, estipulou que Maria fosse entregue a ele para crescer junto com Eduardo.

 Henrique ficou furioso quando os escoceses repudiaram o tratado em dezembro de 1543 e renovaram sua aliança com a França. Ele ordenou em abril do ano seguinte que Eduardo Seymour, Conde de Hertford e tio de Eduardo, invadisse a Escócia para "colocar tudo a ferro e fogo, queimar a cidade de Edimburgo, tão arrasada e desfigurada quando você a saquear e conseguir o que puderes dela, já que deve haver para sempre uma memória perpétua da vingança de Deus iluminada sobre eles por sua falsidade e deslealdade".
 Seymour respondeu com a campanha mais selvagem já lançada contra a Escócia. A guerra ficou conhecida como "O Rude Cortejo"


  • Ascensão


Eduardo, com nove anos de idade, escreveu ao pai e a madrasta em 10 de janeiro de 1547 agradecendo pelos presentes de ano novo.

Em 28 de janeiro de 1547, Henrique VIII morreu. Liderados por Eduardo Seymour e Guilherme Paget, aqueles próximos ao trono concordaram em adiar o anúncio da morte do rei até todos os arranjos para suavizar a transição fossem tomados. Seymour e sir Antônio Browne, mestre do cavalo, foram pegar Eduardo em Hertford e o levaram até Enfield, onde Isabel estava vivendo. 

Ele e Isabel foram então informados da morte do pai e tiveram uma leitura de seu testamento.  O Lorde Chanceler Tomás Wriothesley anunciou a morte de Henrique ao parlamento em 31 de janeiro, ordenando proclamações gerais sobre a sucessão de Eduardo.

O novo rei foi levado a Torre de Londres, onde foi recebido por "grandes tiros de artilharia em todos os lugares, tanto fora da Torre quanto fora dos navios". No dia seguinte, os nobres do reino prestaram reverência na torre; Seymour foi anunciado como Protetor.

Eduardo VI foi coroado na Abadia de Westminster quatro dias depois, em 20 de fevereiro.

Abreviou-se a cerimônia por causa da "tediosa duração da mesma, que seria fatigante e porventura prejudicial à majestade do Rei, ainda sendo de tenra idade", e também porque a Reforma considerou algumas partes inapropriadas.

 Na véspera da ocasião, Eduardo foi de cavalo da Torre até o Palácio de Westminster através de multidões e desfiles, muitos dos quais baseados noutro menino rei, Henrique VI.[50] 


  • Protetorado de Seymour
Conselho Regencial

O testamento de Henrique VIII nomeava dezesseis executores que deveriam atuar no conselho de Eduardo até ele alcançar dezoito anos. Esses executores eram suplementados por doze homens que deveriam auxiliá-los se chamados.

 Seja qual for o caso, a morte de Henrique foi seguida de uma enorme entrega de terras e honras ao novo grupo no poder.

O testamento possuía uma cláusula de "presentes não cumpridos", adicionada no último minuto, que permitia aos executores de Henrique a livre distribuição de terras e honras para eles mesmos e a corte, particularmente para Eduardo Seymour, tio de Eduardo VI que se tornou Lorde Protetor do Reino, Governador da Pessoa do Rei e Duque de Somerset.


  • Conselho Privado.
Na verdade, o testamento de Henrique VIII não nomeava um Protetor. Ele confiava o governo do reino durante a minoridade do filho a um Conselho Regencial que governaria coletivamente, por decisão da maioria, com "carga comum e igual".

Mesmo assim, em 4 de fevereiro, alguns dias depois da morte do rei, os executores concordaram em empossar Eduardo Seymour com podereses quase reais.

 Treze dos dezesseis (os outros estavam ausentes) concordaram em nomeá-lo Lorde Protetor, algo que foi justificado como sua decisão conjunta "por virtude da autoridade" do testamento de Henrique.

Seymour pode ter feito acordos com alguns dos executores, que imediatamente receberam presentes.

A tomada de poder de Seymour foi suave e eficiente. Francisco van der Delft, o embaixador imperial, relatou que ele "governa absolutamente tudo", com Paget operando como secretário, apesar dele prever problemas com João Dudley, feito Conde de Warwick na distribuição de honras. 


  • Guerra
A única habilidade inquestionável de Seymour era como soldado, algo que ele havia provado em expedições a Escócia e na defesa de Bolonha-sobre-o-Mar em 1546. Desde o início, seu principal interesse como Protetor era a guerra contra a Escócia.

Depois de uma esmagadora vitória em setembro de 1547 na Batalha de Pinkie Cleugh, ele estabeleceu uma rede de guarnições na Escócia, chegando até a Dundee.

Entretanto, seu sucesso inicial foi seguido por uma perda de direção, já que seu objetivo de unir os dois reinos através da conquista ficou cada vez mais irrealista. Os escoceses se aliaram com a França, que enviou reforços para a defesa de Edimburgo em 1548

 Maria da Escócia foi levada para a França, onde foi prometida ao delfim.

O custo de manter os exércitos ingleses em guarnições permanentes também colocava um ônus insustentável nas finanças reais.

Um ataque francês contra Bolonha em agosto de 1549 forçou Seymour a começar uma retirada da Escócia.


  • Rebeliões
A Inglaterra esteve sujeita a inquietações sociais durante 1548. Várias revoltas estouraram depois de abril de 1549, impulsionadas por inúmeras queixas religiosas e agrárias. As duas maiores rebeliões precisaram de intervenções militares para serem suprimidas. 

A primeira, que ocorreu em Devon e Cornualha, algumas vezes chamada de Rebelião do Livro de Oração, aconteceu principalmente por causa da imposição de serviços religiosos em inglês, e a segunda, que ocorreu em Norfolk, foi liderada por Roberto Kett, e foi basicamente uma luta contra os cercamentos.

Um aspecto interessante dessa segunda rebelião era que os camponeses acreditavam estar agindo legitimamente contra senhorios cercados, convencidos que os senhores de terra eram os infratores.


  • Queda de Seymour
A sequência de eventos que levaram a retirada de Eduardo Seymour do poder já foram frequentemente chamadas de "golpe de estado".

Seymour foi alertado em 1 de outubro de 1549 que seu governo estava sendo seriamente ameaçado. Ele emitiu uma proclamação pedindo ajuda, tomou posse da pessoa do rei e retirou-se para a segurança do Castelo de Windsor, onde o rei escreveu que "Eu acho que estou na prisão".

Enquanto isso, o conselho publicou detalhes da má gestão do governo de Seymour. Eles deixaram claro que o poder do Protetor vinha deles, não do testamento de Henrique VIII. O conselho prendeu Seymour em 11 de outubro e levou Eduardo VI para o Palácio de Richmond.

   Em fevereiro de 1550, João Dudley, Conde de Warwick, emergiu como o líder do conselho. Apesar de ter sido solto da Torre e voltado ao conselho, Seymour foi executado por felonia em janeiro de 1552 depois de tentar derrubar Dudley.

Eduardo marcou a morte de Seymour em seu Chronicle: "o duque de Somerset teve a cabeça cortada na Torre entre às oito e nove horas desta manhã".


  • Protetorado de Dudley
Em contraste, João Dudley, Conde de Warwick, feito Duque de Northumberland em 1551, o sucessor de Seymour, era considerado pelos historiadores um conspirador que cinicamente se elevou e enriqueceu-se às custas da coroa. Desde a década de 1570, as realizações econômicas e administrativas de seu governo passaram a ser reconhecidas. Ele recebeu crédito por restaurar a autoridade do conselho e por equilibrar o governo após os desastres do protetorado de Seymour.

O rival de Dudley na liderança do novo governo era Tomás Wriothesley, 1.º Conde de Southampton, cujos apoiadores conservadores haviam se aliado com os de Dudley para criar um conselho unânime, esperando reverter a política de reforma religiosa de Seymour.

 Entretanto, Dudley depositou suas esperanças no forte protestantismo do rei e, afirmando que Eduardo era velho o bastante para governar pessoalmente, se aproximou do rei junto com seu pessoal, tomando o Conselho Privado.[

Paget, aceitando um título de barão, juntou-se a Dudley ao perceber que a política conservadora não aproximaria o imperador Carlos V da causa inglesa em Bolonha.[111] Wriothesley preparou um caso para executar Seymour, desejando descreditar Dudley através através das declarações de Seymour feitas com a cooperação do primeiro. Como um contra-movimento, Dudley convenceu o parlamento a libertar Seymour em 14 de janeiro de 1550. Dudley então expulsou Wriothesley e seus apoiadores depois de ganhar os outros membros em troca de títulos, sendo feito Lorde Presidente do Conselho e grande mestre da criadagem do rei.[nota 17][112] Ele era claramente o líder do governo, mesmo não sendo chamado de Protetor.[113]

Eduardo crescia e passava a entender cada vez mais sobre os assuntos de governo. Entretanto, seu real envolvimento nas decisões sempre foi debatido, e historiadores do século XX apresentaram várias possibilidades; nas palavras de Stephen Alford, "equilibrando uma marionete articulada contra um rei precoce, maduro e essencialmente adulto".[114] Um "Conselho de Estado" foi criado quando Eduardo completou catorze anos. O rei pôde escolher ele próprio seus membros.[115] Nas reuniões semanais, Eduardo "escutava os debates das coisas de maior importância".[116] Um local de contato era a Câmara Privada, onde o rei trabalhava com os secretários Guilherme Cecil e Guilherme Petre.[117] Ele exercia sua maior influência nas questões religiosas, onde o conselho seguia a política protestante que era a favor.[118]

O modo de operação de Dudley era bem diferente do de Seymour. Tomando cuidado para ter certeza de sempre comandar a maioria dos conselheiros, ele encorajava a funcionalidade do conselho e o usava para legitimizar sua autoridade. Por não ter a relação de sangue que Seymour tinha com o rei, Dudley adicionou membros de sua facção ao conselho para controlá-lo. Ele também colocou membros de sua família na criadagem real.[119] Ele entendeu que precisava de um total controle processual do conselho para alcançar domínio pessoal.[120] Nas palavras do historiador John Guy, "Como Seymour, ele se tornou quase-rei; a diferença era que organizou a burocracia na pretensão que Eduardo havia assumido total soberania, enquanto Seymour tinha afirmado o direito de quase soberania como Protetor".[121]


Moeda meia-soberana de Eduardo cunhada em 1551.
Suas políticas de guerra eram mais pragmáticas que as de Seymour, sendo criticado por sua fraqueza. Em 1550, ele assinou um tratado de paz com a França concordando em se retirar de Bolonha e desfazendo as guarnições na Escócia. No ano seguinte, Eduardo foi prometido a Isabel de Valois, filha de Henrique II de França.[nota 18][122] Na prática, ele percebeu que a Inglaterra não tinha como arcar com o custo das guerras.[123] Internamente, tomou medidas para controlar a agitação social. Para mais rebeliões, Dudley manteve representantes da coroa permanentemente entre o povo, incluindo lordes-tenentes, que comandavam forças militares e se reportavam a um governo central.[124]

Dudley, junto com Guilherme Paulet e Valter Mildmay, trabalhou no desastroso estado das finanças do reino.[125] Porém, seu governo sucumbiu às tentações de lucrar rapidamente ao desvalorizar a moeda.[126] O desastre econômico que se seguiu fez Dudley entragar a iniciativa ao especialista Tomás Gresham. Em 1552, a confiança na moeda voltou, os preços caíram e as trocas melhoraram. Apesar da total recuperação econômica ter ocorrido apenas no reinado de Isabel, suas origens estão nas políticas de Dudley.[127] O governo também reprimiu a fraude e realizou uma grande reavaliação das práticas de arrecadação de receitas, algo que foi chamado de "uma das mais notáveis realizações da administração Tudor".[128]

Reforma religiosa
Ver artigo principal: Reforma Inglesa
Na questão religiosa, o governo de Dudley seguia a mesma política do de Seymour, apoiando um programa reformista cada vez mais intenso.[129] Apesar da influência prática de Eduardo no governo ser limitada, sua forte protestantismo fez da reforma algo obrigatório; sua sucessão foi realizada pela facção reformista que continuou no poder durante seu reinado. Tomás Cranmer, Arcebispo da Cantuária, era o homem que o rei mais confiava, e ele apresentou uma série de reformas religiosas que revolucionavam a Igreja Anglicana de uma que – apesar de rejeitar a supremacia papal – permanecia essencialmente católica para uma institucionalmente protestante. Sob Eduardo, foi retomado o confisco de propriedades da igreja que havia começado com Henrique VIII – notavelmente com a dissolução de capelas – gerando grandes vantagens para a coroa e para os novos donos das propriedades.[130] Dessa maneira, a reforma foi uma ação religiosa e política no reinado de Eduardo VI.[131][20] Ao final de seu reinado, a igreja estava em ruínas financeiras e com muitas das propriedades dos bispos transferidas para outras mãos.[132]

As convicções religiosas de Seymour e Dudley nunca foram claras para os historiadores, que se dividem sobre a sinceridade de seu protestantismo.[132][133][134][135][136] Entretanto, há poucas dúvidas sobre o fervor religioso de Eduardo VI, que costumava ler doze capítulos das Escrituras por dia e gostava de sermões; João Foxe o chamou de "pequeno devoto".[137][138] O rei foi representado durante e após sua vida como um novo Josias, o rei bíblico que destruiu os ídolos de Baal.[139] Ele conseguia ser pedante em seu anti-catolicismo e uma vez pediu para Catarina Parr convencer Maria "a deixar de participar de danças estrangeiras e diversões que não a tornam mais uma princesa cristã".[23] Jennifer Loach, biógrafa de Eduardo, adverte contra aceitar rapidamente a imagem piedosa do rei criada pelos reformistas, como o influente Atos e Monumentos de Foxe, onde uma xilogravura retrata Eduardo ouvindo um sermão de Hugo Latimer.[nota 19]}}[140] No início de sua vida, Eduardo se conformou às práticas prevalecentes católicas, incluindo comparecer a missas. Porém, convenceu-se, sob a influência de Cranmer e outros reformistas entre seus tutores e serventes, que se deveria impor a "verdadeira" religião na Inglaterra.[141]


Tomás Cranmer.
A Reforma Inglesa prosseguiu sob pressão de dois lados: dos tradicionalistas e dos zelotos, que lideravam incidentes de iconoclastia e reclamavam que a reforma não tinha ido longe o bastante. Doutrinas reformistas foram oficializadas, como a justificação da fé somente e a eucaristia do pão e vinho para leigos e clero.[142] O Ordinal de 1550 substituía a ordenação divina de padres por um governo com um sistema de nomeação, autorizando ministros a pregar o evangelho e administrar o sacramento ao invés de "oferecer sacrifício e celebrar a missa tanto pelos vivos quanto pelos mortos", como antes.[143][144][145] Cranmer assumiu a tarefa de escrever uma liturgia unificada em inglês, detalhando todos os cultos diários e semanais e festivais religiosos, obrigatórios no primeiro Ato de Uniformidade de 1549.[146] Tradicionalistas atacaram o Livro de Oração Comum de 1549 por dispensar muitos rituais queridos da liturgia, como a elevação do pão e vinho,[nota 20][147][148][149] enquanto alguns reformistas reclamavam da retenção de muitos elementos "papistas", incluindo vestígios de rituais de sacrifício na eucaristia.[146] Muitos clérigos católicos opuseram-se ao livro de oração, como Estêvão Gardiner, Bispo de Westminster, e Edmundo Bonner, Bispo de Londres, que foram aprisionados na Torre de Londres e privados de sua sé.[150]

A reforma avançou ainda mais depois de 1551 com a aprovação e encorajamento de Eduardo, que passou a exercer uma influência pessoal maior em sua capacidade de Chefe Supremo da Igreja.[151] As novas reformas também foram uma resposta às críticas de reformistas como João Hooper, Bispo de Gloucester, e o escocês João Knox, que foi empregado como ministro em Nescastle sob Dudley e cujas pregações na corte fizeram o rei a ir contra o ajoelhamento na eucaristia.[152] Cranmer também influenciou os pontos de vista do reformista continental Martin Bucer, que morreu na Inglaterra em 1551, de Pietro Martire Vermigli, que estava lecionando em Oxford, e outros teólogos estrangeiros.[153][154][155] A consagração de mais bispos reformistas acelerou o processo.[156] No final de 1551 e início de 1552, Cranmer reescreveu o Livro de Oração Comum em termos reformistas menos ambíguos, revisou o direito canónico e preparou uma declaração doutrinal, os Quarenta e Dois Artigos, para esclarecer a prática da religião reformada, particularmente a delicada questão da Eucaristia.[157] A formulação de Cranmer da religião reformada, finalmente livrando a eucaristia de qualquer noção da verdadeira presença de Deus no pão e vinho, efetivamente aboliu as missas.[158][159] De acordo com Geoffrey Elton, a publicação do livro revisado de Cranmer em 1552, junto com o segundo Ato de Uniformidade, "marcou o ressurgimento da Igreja Anglicana no protestantismo".[159] O livro de oração de 1552 permanece até hoje como a fundação dos serviços religiosos da Igreja Anglicana.[160] Porém, ele não conseguiu implementar todas as mudanças assim que ficou claro que Eduardo, quem toda a reforma dependia, estava morrendo no início de 1553.[nota 21][161]

Crise da sucessão
Elaboração para a sucessão

Na "elaboração para a sucessão", Eduardo preteriu as irmãs em favor de Joana Grey. Na quarta linha, alterou "herdeiros homens de L Joana" para "L Joana e seus herdeiros homens".
Em fevereiro de 1553 Eduardo VI ficou doente e em junho, após várias melhoras e recaídas, estava em uma condição sem esperanças.[162] A morte do rei e a sucessão de sua meia-irmã católica Maria colocaria em perigo a reforma inglesa; seu conselho e oficiais tinham várias razões para temer isso.[163] O próprio Eduardo era contra a sucessão de Maria, não apenas por questões religiosas mas também nas de legitimidade e herança masculina, algo que também se aplicava a Isabel.[164] Ele escreveu um rascunho de documento, "Minha elaboração para a sucessão", em que empreendeu alterar a sucessão, muito provavelmente inspirado pelo precedente de seu pai.[165] Ele preteriu as reivindicações de suas meia-irmãs e colocou a coroa em sua prima de segundo grau Joana Grey, então com dezesseis anos, que se casou em 25 de maio de 1553 com lorde Guildford Dudley, um dos filhos de João Dudley.[166]

Em seu documento Eduardo forneceu, em caso de "falta de descendência de meu corpo", a sucessão apenas para herdeiros homens da mãe de Joana Grey, de Joana ou de suas irmãs.[nota 22][168] Enquanto sua morte se aproximava e possivelmente sob a influência de Dudley,[169] ele alterou as palavras para que Joana e suas irmãs pudessem suceder. Porém, Eduardo concedia o direito a Joana apenas na falta de existência de um herdeiro homem, exigida pela realidade, um exemplo que não deveria ser seguido se Joana e suas irmãs tivessem apenas filhas.[nota 23][171] No documento final, tanto Maria quanto Isabel foram excluídas por ilegitimidade[172] já que haviam sido declaradas bastardas no reinado de Henrique VIII.[173] As disposições para alterar a sucessão iam diretamente de encontro com o Terceiro Ato de Sucessão de Henrique e já foram descritas como bizarras e ilógicas.[174]


Joana Grey.
No início de junho, Eduardo supervisionou pessoalmente a redação por advogados de uma versão de sua elaboração, que ele assinou em seis pontos chave.[175] Depois, em 15 de junho, ele chamou altos juízes até sua cama, comandando-os "com palavras afiadas e semblante zangado" na sua aliança para preparar sua elaboração em cartas-patente e anunciar que iria passá-las no parlamento.[176] Sua medida seguinte foi ter conselheiros e advogados assinarem em sua presença um vínculo em que concordavam seguir fielmente o testamento após sua morte.[177] Alguns meses depois, Eduardo Montagu, chefe de justiça, falou que quando ele e seus colegas levantaram questões legais contra a elaboração, Dudley os ameaçou "tremendo para a raiva ... ainda disse que iria lutar de camisa contra qualquer homem naquela querela".[178] Montagu também ouviu um grupo de lordes atrás dele concluir que "se eles se recusassem a fazer isso, eram traidores".[179] Finalmente, a elaboração foi assinada por mais de cem pessoas em 21 de junho, incluindo conselheiros, pariatos, arcebispos, bispos e xerifes;[180] muitos posteriormente afirmaram que foram coagidos por Dudley, apesar da biógrafa Jennifer Loach apontar que "poucos deram na época quaisquer indicações claras de relutância".[181]

Era de conhecimento público que Eduardo estava morrendo, e diplomatas estrangeiros suspeitavam que um esquema para excluir Maria já estava em andamento. A França achou desagradável a possibilidade de uma prima do imperador no trono inglês, começando conversas secretas com Dudley indicando seu apoio.[182] Os diplomatas estavam certos que a enorme maioria da população da Inglaterra apoiava Maria, mas mesmo assim acreditavam que Joana seria estabelecida como rainha de forma bem sucedida.[183]

Durante séculos, a tentativa de alterar a sucessão foi vista principalmente como um plano apenas de Dudley.[184] Entretanto, desde a década de 1970, muitos historiadores atribuíram a origem da "elaboração" e a insistência para sua implementação como iniciativa de Eduardo.[185] Diarmaid MacCulloch disse que eram os "sonhos adolescentes [do rei] de fundar um reino evangélico de Cristo",[186] enquanto que David Starkey afirmou que "Eduardo teve alguns colaborantes, mas a força iniciativa era dele".[187] Entre outros membros da Câmara Privada, sir João Gates, íntimo de Dudley, foi suspeito de sugerir ao rei que alterasse a elaboração para que a própria Joana Grey – não apenas seus filhos homens – pudesse herdar a coroa.[188] Não importando seu grau de contribuição, Eduardo estava convencido que sua palavra era a lei[189] e apoiou totalmente deserdar suas meia-irmãs: "barrar Maria da sucessão era uma causa que o jovem rei acreditava".[190]

Doença e morte

Eduardo, c. 1550.
Eduardo adoeceu em fevereiro de 1553 com uma febre e tosse que gradualmente piorou. Jean Scheyfve, embaixador imperial, relatou que "ele sofre bastante quando a febre o ataca, especialmente por uma dificuldade de respirar, que se deve a uma compressão dos órgãos do lado direito ... Eu opino que isso é uma visita e um sinal de Deus".[191] O rei ficou bom o bastante no início de abril para tomar ar no parque de Westminster e se mudar para Greenwich, porém ele ficou fraco novamente ao final do mês. Em 7 de maio, ele estava "muito alterado" e os médicos estavam confiantes em sua recuperação. Alguns dias depois Eduardo estava vendo os navios passarem no rio Tâmisa da sua janela.[192] Porém, ele desmaiou, e em 11 de junho, Scheyfve, que tinha um informante na criadagem do rei, relatou que "a matéria que ele expele de sua boca é algumas vezes da cor amarela e preta esverdeada, algumas vezes rosa, como a cor do sangue".[193] Seus médicos agora acreditavam que ele estava sofrendo de "um tumor supurante" nos pulmões e admitiram que a vida de Eduardo não podia ser salva.[194] Logo, suas pernas ficaram tão inchadas que ele tinha que deitar de costas, também perdendo a força para resistir a doença. Ele sussurrou ao seu tutor João Cheke que "Eu estou feliz em morrer".[195]

Eduardo fez sua última aparição pública em 1 de julho quando apareceu na janela do Palácio de Placentia, horrorizando as pessoas com sua condição "magra e definhada". Nos dias seguintes, grandes multidões chegaram na esperança de vê-lo novamente, porém no dia 3 foi informado que o clima estava muito frio para o rei aparecer. Eduardo VI morreu no Palácio de Placentia aos 15 anos de idade em 6 de julho de 1553. De acordo com o relato de João Foxe sobre sua morte, suas últimas palavras foram: "Eu estou fraco; que o Senhor tenha piedade de mim, e leve meu espírito".[196] Ele foi enterrado no dia 8 de agosto na Capela de Henrique VII na Abadia de Westminster, com rituais sendo realizados por Cranmer. A procissão passou por toda Londres e os habitantes a assistiram "chorando e lamentando"; a carruagem funerária, envolta de ouro, foi coberta por uma efígie de Eduardo com coroa, cetro e jarreteira.[197]

A causa da morte de Eduardo VI não é certa. Como muitas mortes reais no século XVI, surgiram vários rumores sobre envenenamento, porém nunca se encontrou evidências disso.[198] Dudley, cuja impopularidade ficou aparente após a morte do rei, era o centro dos rumores sobre o suposto envenenamento.[199] Outra teoria dizia que Eduardo havia sido envenenado por católicos que queriam ver Maria no trono.[200] O cirurgião que abriu o peito do rei depois de sua morte descobriu que "a doença da qual sua majestade morreu foi a doença dos pulmões".[201] O embaixador veneziano relatou que Eduardo morreu de consumo – em outras palavras, tuberculose – um diagnóstico aceito pela maioria dos historiadores.[202] Skidmore acredita que o rei contraiu tuberculose após um ataque de sarampo e varíola em 1552, algo que suprimiu sua imunidade natural.[201] Loach sugere que seus sintomas eram de uma broncopneumonia, levando a uma "infecção pulmonar supurante" ou abscesso pulmonar, sepse e insuficiência renal.[203]

Joana e Maria

Maria I em 1554.
Maria, que viu Eduardo pela última vez em fevereiro, foi mantida informada da situação de seu meio-irmão por Dudley e seus contatos com os embaixadores imperiais.[204] Ciente da iminente morte de Eduardo, ela deixou a Hunsdon House, perto de Londres, e foi para suas propriedades em Kenninghall e Norfolk, onde podia contar com o apoio de seus inquilinos.[205] Dudley enviou navios para a costa de Norfolk para impedir que ela fugisse do país ou barrar a chegada de reforços vindos do continente. Ele adiou o anúncio da morte do rei para poder juntar suas forças, com Joana Grey sendo levada à Torre no dia 10 de julho.[206] No mesmo dia, foi proclamada rainha nas ruas de Londres, gerando descontentamento. O Conselho Privado recebeu uma mensagem de Maria afirmando seu "direito e título" ao trono e mandando o conselho proclamá-la sua rainha, algo que ela mesma já tinha feito.[207] O conselho respondeu afirmando que Joana era rainha pela autoridade de Eduardo e que ela, ao contrário, era ilegítima e apoiada por "algumas pessoas básicas e lascivas".[208]

Dudley logo percebeu que havia calculado mal suas ações, não menos ao falhar em assegurar-se da pessoa de Maria antes da morte de Eduardo.[209] Apesar de muitos que se juntaram por Maria eram conservadores esperando derrotar o protestantismo, seus apoiadores também incluíam muitos que consideram que sua reivindicação ao trono estava acima de quaisquer considerações religiosas.[210] Dudley foi obrigado a deixar o controle do conselho em Londres e lançar uma perseguição não planejada por Maria em Anglia do Leste, onde chegavam notícias de seu crescente apoio, que incluíam vários nobres, cavalheiros e "incontáveis companhias de pessoas comuns".[211] Em 14 de julho, Dudley marchou para fora de Londres com três mil homens, chegando em Cambridge no dia seguinte; enquanto isso, Maria juntou suas forças no Castelo de Framlingham em Suffolk no dia 19 de julho, alcançando quase vinte mil homens.[212]

Agora o Conselho Privado percebeu que havia cometido um grande erro. Em 19 de julho, liderado pelo Conde de Arundel e o Conde de Pembroke, o conselho proclamou publicamente Maria como sua rainha; o reinado de nove dias de Joana terminou. A proclamação iniciou grande euforia por toda Londres.[213] Preso em Cambridge, Dudley também proclamou Maria – como havia sido comandado pelo conselho através de uma carta.[214] Guilherme Paget e o Conde de Arundel foram para Framlingham a fim de pedir o perdão de Maria; Arundel prendeu Dudley em 24 de julho. Dudley foi decapitado no dia 22 de agosto, pouco depois de renunciar ao protestantismo.[215] Sua retratação consternou Joana, sua nora, que também foi executada no dia 12 de fevereiro de 1554.[216]

Legado protestante

Xilografia contemporânea de Hugo Lartimer pregando ao rei Eduardo VI e uma multidão de cortesãos nos jardins particulares do Palácio de Whitehall.[217]
Apesar de Eduardo VI ter reinado por apenas seis anos, seu período como rei deixou uma contribuição duradoura na Reforma Inglesa e na estrutura da Igreja Anglicana.[218] A última década do reinado de Henrique VIII teve uma parcial estagnação na reforma, voltando para valores mais conservadores.[219] Em contraste, o reinado de Eduardo viu uma progresso radical. Em seis anos, a igreja deixou de ter uma liturgia e estrutura essencialmente católica apostólica romana para uma normalmente identificada como protestante.[220] Particularmente, a introdução do Livro de Oração Comum, o Ordinal de 1550 e os Quarenta e Dois Artigos de Cranmer formaram a base das práticas da Igreja Anglicana que se mantém até os dias de hoje.[221] O próprio Eduardo aprovou essas mudanças, e mesmo elas tendo sido obras de reformistas como Tomás Cranmer, Hugo Latimer e Nicolas Ridley, apoiados pelo conselho evangelical do rei, sua religião foi o catalisador na aceleração da reforma durante seu reinado.[222]

Maria enfrentou grandes obstáculos para reverter as obras religiosas de seu meio-irmão. Apesar de acreditar na supremacia papal, ela governava constitucionalmente como Chefe Suprema da Igreja Anglicana, uma contradição que tentou reprimir.[223] Maria viu-se incapaz de restaurar o grande número de propriedades eclesiásticas entregues ou vendidas a donos particulares.[224] Apesar dela ter queimado vários clérigos protestantes, muitos reformistas foram para o exílio ou permaneceram ativos na Inglaterra subversivamente, produzindo uma grande quantidade de propaganda que ela não conseguiu deter.[225] Mesmo assim, o protestantismo ainda não estava "impresso nos estômagos" do povo inglês,[226] e se Maria tivesse vivido mais, sua reconstrução católica poderia ter sido bem sucedida, deixando o reinado de Eduardo como uma aberração histórica, não o seu próprio.[227]

Quando Maria morreu em 1558, a Reforma Inglesa continuou e a maioria das reformas instituídas durante o reinado de Eduardo foram restabelecidas na Resolução Religiosa de Isabel. A nova rainha substituiu os conselheiros e bispos de Maria com ex-eduardianos, como Guilherme Cecil, antigo secretário de Dudley, e Ricardo Cox, ex-tutor de Eduardo, que pregaram sermões anti-católicos na abertura do parlamento em 1559.[228] O parlamento aprovou o Ato da Uniformidade que restaurava com algumas modificações o livro de oração de Cranmer;[229] os Trinta e Nove Artigos de 1563 foram baseados nos Quarenta e Dois Artigos de Cranmer. Os desenvolvimentos teológicos de Eduardo foram uma grande referência para as políticas religiosas de Isabel

terça-feira, 12 de maio de 2020

Henrique VIII


Henrique é conhecido como o fundador da Igreja Anglicana. Suas lutas contra Roma ocasionaram a renúncia da Inglaterra à autoridade papal, a Dissolução dos Mosteiros e seu próprio estabelecimento como Chefe Supremo da Igreja de Inglaterra. Ainda assim continuou a acreditar nos principais ensinamentos católicos, mesmo após sua excomunhão.
Em 1513, Henrique aliou-se com Maximiliano I, Sacro Imperador Romano-Germânico, e invadiu a França com um exército numeroso e bem equipado, porém pouco realizou com o enorme custo financeiro. Por outro lado, Maximiliano usou a invasão inglesa para seu próprio benefício, prejudicando a capacidade da Inglaterra de derrotar os franceses. 
Esse incidente marcou o início de uma obsessão de Henrique, que invadiu o país novamente em 1544. Desta vez, suas forças capturaram a importante cidade de Bolonha-sobre-o-Mar, porém o imperador Carlos V apoiou Henrique até onde julgava necessário e a Inglaterra, esgotada pelos custos da guerra, entregou a cidade de volta após pagamento de resgate.
Seus contemporâneos, durante seu auge, consideraram Henrique um rei atraente, bem educado e realizado, e ele já foi descrito como "um dos governantes mais carismáticos a ocupar o trono inglês".
 Além de reinar com poder considerável, Henrique também escrevia e compunha. Seu desejo de ter um herdeiro homem – em parte por causa de sua vaidade pessoal, por acreditar que uma mulher não seria capaz de consolidar a dinastia Tudor e também pela frágil paz existente após a Guerra das Rosas – levou às duas coisas pelas quais Henrique é mais lembrado: seus seis casamentos e a Reforma Inglesa.
 Ele tornou-se obeso mórbido e com saúde fraca, o que contribuiu para sua morte em 1547. Ele é frequentemente caracterizado ao final de sua vida como concupiscente, egoísta, severo e inseguro. 

  • Início de vida

Escudo como Duque de Iorque
Brasão como Príncipe de Gales.
Henrique nasceu no Palácio de Placentia, terceiro filho de Henrique VII e Isabel de Iorque.[
 Em 1493, aos dois anos de idade, Henrique foi nomeado Condestável do Castelo de Dover e Lorde Guardião dos Cinco Portos. 
Em maio de 1495, Henrique foi nomeado para a Ordem da Jarreteira.[
Ele recebeu uma educação de primeira qualidade de grandes tutores, tornando-se fluente em latim e francês além de aprender um pouco de italiano. Pouco se sabe sobre o começo de sua vida – com exceção de alguns fatos isolados – já que não era esperado que se tornasse rei.
 Em novembro de 1501, Henrique participou consideravelmente das cerimônias do casamento de seu irmão Artur com Catarina de Aragão, filha mais nova de Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela.

Catarina de Aragão, c. 1502.
Em 1502, Artur morreu aos 15 anos, vinte semanas depois de se casar com Catarina. Sua morte colocou todos seus deveres em Henrique, então com dez anos.
Henrique VII renovou seus esforços para selar uma aliança com a Espanha ao oferecer Henrique para se casar com a viúva Catarina. 
 Em 23 de junho de 1503, um tratado foi assinado para o casamento dos dois e eles foram prometidos dois dias depois.
 Uma dispensa papal era necessária apenas para o "impedimento de honestidade pública" se o casamento com Artur não tivesse sido consumado como Catarina afirmava, porém Henrique VII e o embaixador espanhol queriam conseguir a dispensa por "afinidade", que levava em conta a possibilidade de consumação.
 Por Henrique ter apenas onze anos, os dois não podiam viver juntos. A solução de Fernando II foi fazer de sua filha uma embaixadora, permitindo que ela ficasse na Inglaterra indeterminadamente. Muito devota, ela passou a acreditar que era a vontade de Deus que se casasse com Henrique mesmo ele sendo contra isso.

  • Início de reinado

Henrique em 1509.
Henrique VII morreu em 21 de abril de 1509 e o jovem príncipe ascendeu ao trono como Henrique VIII. Logo após o enterro do pai em 10 de maio, o novo rei repentinamente declarou que se casaria com Catarina, 
 Henrique afirmou que era o último desejo de seu pai seu casamento com Catarina. Sendo isso verdade ou não, era certamente conveniente.
 Seu casamento com Catarina foi discreto e foi realizado em Placentia. Em 23 de junho de 1509, Henrique levou a esposa da Torre de Londres até a Abadia de Westminster para sua coroação, que aconteceu no dia seguinte. 

Pouco tempo depois Catarina engravidou, porém a criança foi uma menina que nasceu e morreu no dia 31 de janeiro de 1510. Quatro meses depois a rainha estava grávida novamente. No dia de ano novo de 1511, a criança – Henrique – nasceu. 
 Entretanto, o menino morreu sete semanas depois.
Começando em 1516, a mais importante amante de Henrique por três anos foi Isabel Blount. Ela é uma das duas únicas amantes completamente incontestáveis, poucas para um rei jovem e viril.  Catarina não protestava, engravidando novamente em 1518 com outra menina natimorta. Blount deu à luz em junho de 1519 a Henrique FitzRoy, filho ilegítimo do rei.
 O menino foi feito Duque de Richmond em junho de 1525  FitzRoy se casou em 1533 com Maria Howard, porém morreu sem filhos três anos depois. Na época de sua morte, o parlamento tinha aprovado o Segundo Decreto de Sucessão, que poderia permitir que ele se tornasse rei.

  • França e os Habsburgos

Henrique c. 1520.
Em 1510, com uma frágil aliança com o Sacro Império Romano-Germânico na Liga de Cambrai, a França estava vencendo uma guerra contra Veneza. Henrique renovou a aliança de seu pai com Luís XII da França, uma questão que dividiu seu conselho. Certamente uma guerra contra o poder combinado das duas potências seria extremamente difícil. Pouco tempo depois, ele assinou um pacto contraditório com Fernando contra a França. O problema foi resolvido em outubro de 1511 com a criação da anti-francesa Liga Santa pelo Papa Júlio II, levando Luís a entrar em conflito com Fernando.
 Henrique colocou a Inglaterra na Liga Santa pouco depois, com um ataque inicial conjunto anglo-espanhol a Aquitânia planejado para a primavera. Parecia que os sonhos de Henrique começariam a se tornar realidade e ele governaria a França.
 A declaração formal de guerra ocorreu em abril, porém o rei não liderou pessoalmente o ataque. A ação foi um grande fracasso;  Henrique então realizou um golpe diplomático ao convencer o imperador a entrar na Liga Santa.
Extraordinariamente, Henrique também garantiu a promessa do título "O Rei Mais Cristão da França" e uma possível coroação pelo papa em Paris se Luís fosse derrotado.
Henrique invadiu a França em 30 de junho de 1513  Henrique liderou o exército pessoalmente, acompanhado por uma grande comitiva.
Sua ausência do país induziu seu cunhado Jaime IV da Escócia a invadir a Inglaterra a mando de Luís.
O exército inglês, supervisionado pela rainha Catarina, derrotou os escoceses na Batalha de Flodden em 9 de setembro de 1513. Entre os mortos estava Jaime, terminando o breve envolvimento escocês na guerra.
 Essas campanhas deram a Henrique o gosto do sucesso militar que tanto desejava. Porém, apesar de indícios que iria prosseguir com uma campanha no ano seguinte, o rei decidiu não realizar o movimento. 
 Com a morte de Júlio II e a eleição de Leão X, que estava inclinado a negociar a paz com a França, Henrique assinou seu próprio tratado com Luís: sua irmã Maria se tornaria a esposa do rei francês, tendo sido anteriormente prometida a Carlos da Áustria, e a paz seguiu-se por oito anos.
O encontro de Francisco I e Henrique VIII no Campo do Pano de Ouro em 1520.

  • Divórcio de Catarina de Aragão

Catarina de Aragão, c. 1525.
 Em 1525, enquanto ficava cada vez mais impaciente com a incapacidade de Catarina de gerar o herdeiro homem que tanto desejava, ele ficou enamorado de Ana Bolena, então uma jovem carismática na comitiva da rainha.
 Porém, Ana resistiu as tentativas de sedução e se recusou a se tornar uma amante como a irmã.[56] Foi nesse contexto que Henrique considerou suas três opções para conseguir seu sucessor e assim resolver aquilo que a corte passou a descrever como sua "grande questão".
 As opções eram legitimizar Henrique FitzRoy, que necessitaria da intervenção do papa e estaria aberto a contestações; casar Maria o mais rápido possível e esperar que um neto herdasse a coroa diretamente, porém ela era uma criança e era improvável que ficasse grávida antes da morte do rei; ou divorciar-se de Catarina de alguma forma e se casar com alguém na idade de ter filhos. Provavelmente vendo a possibilidade de se casar com Ana, a terceira alternativa foi a mais atrativa.[
Assim o anulamento do casamento com Catarina se tornou o maior desejo do rei.
Henrique, c. 1531.
As reais motivações e intenções de Henrique sobre os anos seguintes não são totalmente claras.[
Ele mesmo, pelo menos no início de seu reinado, era um católico devoto e bem informado a ponto de publicar em 1521 a dissertação Assertio Septem Sacramentorum, ganhando o título de Fidei Defensor ("Defensor da Fé") do Papa Leão X
O trabalho representava uma ferrenha defesa da supremacia papal, Não está claro quando Henrique mudou seu ponto de vista sobre a questão enquanto cresciam suas intenções para um segundo casamento. 
Certamente, por volta de 1527, ele se convenceu que havia quebrado o Levítico 20:21 ao se casar com a viúva de seu irmão, uma autoridade que o papa nunca teve (na visão do rei) para dispensar. Foi esse argumento que Henrique levou até o Papa Clemente VII na esperança de ter seu casamento com Catarina anulado, renunciando uma linha de ataque menos abertamente desafiadora.
Perdida a possibilidade de divórcio e o lugar da Inglaterra na Europa, Wolsey recebeu a culpa; foi acusado de praemunire em outubro do mesmo ano, com sua queda sendo "súbita e total".[
Ele brevemente se reconciliou com o rei (e oficialmente perdoado) na primeira metade de 1530, porém foi acusado novamente em novembro, desta vez por traição, mas morreu esperando julgamento.
Depois de um curto período em que Henrique assumiu o governo pessoalmente, sir Tomás More foi nomeado Lorde Chanceler e principal ministro do rei. More, inteligente e capacitado, porém católico devoto e oponente do divórcio, inicialmente cooperou com a nova política de Henrique, denunciando Wolsey ao parlamento.

Catarina foi banida da corte um ano depois, com seus aposentos sendo entregues a Ana. 

  • Casamento com Ana Bolena

Ana Bolena, c. 1534.
Henrique e Ana casaram secretamente. Ela logo engravidou e houve um segundo casamento em Londres no dia 25 de janeiro de 1533. Em 23 de maio, Cranmer, julgando em uma corte especial reunida no Priorado de Dunstable para decidir sobre a validade do casamento do rei com Catarina de Aragão, declarou a união nula e sem efeito. Cinco dias depois ele declarou que o casamento de Henrique e Ana era válido.
Catarina foi despojada de seus títulos de rainha, tornando-se "princesa viúva" como esposa de Artur. Ana foi coroada rainha consorte em 1 de junho de 1533.
 Ela deu à luz uma filha um pouco prematura em 7 de setembro do mesmo ano. A criança foi batizada de Isabel, em homenagem à mãe de Henrique, Isabel de Iorque.
 More renunciou ao cargo de Lorde Chanceler, deixando Cromwell como o principal ministro do rei.
Com o Decreto de Sucessão de 1533, Maria, filha de Catarina, foi declarada ilegítima, o casamento de Henrique com Ana foi legitimado e os seus descendentes foram colocados como os próximos na linha de sucessão.
Com o Decreto de Supremacia, o parlamento reconheceu o rei como o chefe da Igreja da Inglaterra, tendo então o papa Clemente excomungado Henrique  apesar disso ter sido oficializado apenas algum tempo depois.
O rei e a rainha não ficaram satisfeitos com a vida de casados. O casal tinha períodos de calma e afeição, porém Ana se recusava interpretar o papel submisso que lhe era esperado. A vivacidade e intelecto opinativo que a fizeram tão atraente como um amor ilícito também a deixaram muito independente para o papel principalmente cerimonial de consorte, dado ainda que Henrique esperava obediência absoluta daqueles com quem interagia em capacidade oficial na corte. Ela criou muitos inimigos. Por sua vez, o rei não gostava da irritabilidade constante e temperamento violento da esposa. Depois de uma falsa gravidez ou aborto em 1534, Henrique considerou sua falha em lhe dar um herdeiro homem como uma traição. 
No Natal de 1534, ele já estava discutindo com Cranmer e Cromwell as chances de deixar Ana sem precisar voltar para Catarina.
Acreditava-se que Henrique teve com caso com Margarida Sheldon em 1535, porém a historiadora Antonia Fraser afirma que o caso foi com a irmã Maria Sheldon.
As oposições contra suas políticas religiosas foram rapidamente suprimidas  Os opositores mais proeminentes incluíam João Fisher, Bispo de Rochester, e sir Tomás More, ambos tendo recusado prestar juramento de lealdade ao rei. Tanto Henrique quanto Cromwell não queriam que os homens fossem executados; ao invés disso, eles esperavam que os dois mudassem de opinião e se salvassem. Fisher abertamente rejeitou Henrique como o chefe supremo da igreja, porém More teve mais cuidado para evitar o Decreto de Traição, que (diferentemente de outros decretos) não proibia o silêncio. Entretanto, ambos foram subsequentemente condenados por alta traição – More apenas com a evidência de uma conversa com Ricardo Rich, o procurador-geral. Os dois foram executados no verão de 1535.[

  • Execução de Ana Bolena

Henrique, c. 1537.
As notícias de que Catarina de Aragão havia morrido chegaram ao rei e à rainha em 8 de janeiro de 1536. Henrique convocou demonstrações públicas de alegria. Ana estava grávida novamente e sabia das consequências se não conseguisse dar à luz um menino. Mais tarde no mesmo mês, janeiro, o rei caiu de um cavalo em um torneio de justas e foi seriamente ferido, parecendo por um tempo que sua vida estava em perigo. Quando as notícias do acidente chegaram até Ana, ela entrou em choque e abortou um menino de quinze semanas, exatamente no dia do funeral de Catarina, em 29 de janeiro.
 Para a maioria dos observadores, essa perda pessoal foi o começo do fim do casamento.
Apesar de a família Bolena ainda possuir posições importantes no Conselho Privado, Ana tinha muitos inimigos  eram contra Ana os apoiadores de uma reconciliação com a princesa Maria 
m Um segundo divórcio era agora uma possibilidade real, apesar de se acreditar que foi a influência anti-Bolena de Cromwell que levou os oponentes a procurarem um modo de fazê-la ser executada.
A queda de Ana ocorreu pouco depois de ela ter se recuperado de seu último aborto. Ainda é debatido entre os historiadores se isso ocorreu primariamente por causa das alegações de conspiração, adultério ou bruxaria.
 Os primeiros sinais de um desfavorecimento incluíam a nova amante do rei, Joana Seymour, sendo colocada em novos aposentos, 
 Entre 30 de abril e 2 de maio, cinco homens, incluindo Jorge Bolena o irmão, foram presos pelas acusações de adultério e por terem tido relações sexuais com a rainha.
 Ana também foi presa, acusada de adultério e incesto. Apesar das evidências serem pouco convincentes, os acusados foram condenados e sentenciados a morte. Jorge Bolena e os outros homens foram executados em 17 de maio.
 Ana foi executada na Torre Verde da Torre de Londres às 9 horas do dia 19 de maio de 1536.

  • Joana Seymour e questões políticas

Joana Seymour em 1536 e o jovem Eduardo com Henrique e Joana, c. 1545. Na época em que esta pintura foi feita, Henrique já estava casado com sua sexta esposa.
Um dia depois da execução de Ana, Henrique ficou noivo de Joana Seymour, que tinha sido uma das damas de companhia da antiga rainha. Eles se casaram dez dias depois. Joana deu à luz em 12 de outubro de 1537 um filho, o príncipe Eduardo. O parto foi difícil e ela morreu em 24 de outubro de uma infecção, sendo enterrada na Capela de São JorgeCastelo de Windsor.
 A euforia que acompanhou o nascimento de Eduardo se transformou em luto, porém foi apenas com o tempo que Henrique passou a lamentar pela esposa. Na época ele se recuperou rapidamente do choque.
 Medidas foram tomadas para encontrar uma nova esposa para o rei, que, pela insistência de Cromwell e da corte, foram focadas no continente europeu.
Seguiu-se o Segundo Decreto de Sucessão, que declarava os filhos de Henrique com Joana os próximos na linha de sucessão e declarava Maria e Isabel como ilegítimas, excluindo-as do trono. 
O rei também recebeu o poder de determinar a linha de sucessão à sua própria vontade, caso não tivesse mais nenhum descendente. 

  • Ana de Cleves

Ana de Cleves em 1539.
Nessa época, Henrique estava querendo se casar novamente para garantir a sucessão. Cromwell, agora Conde de Essex, sugeriu Ana, irmã do Duque de Cleves, que era visto como um importante aliado em caso de um ataque católico a Inglaterra, já que o duque estava dividido entre o luteranismo e o catolicismo.
Henrique concordou em se casar com Ana.[ Porém, ele logo passou a querer anular o casamento.[109][110] Ela não protestou e confirmou que o casamento jamais fora consumado.
O caso do arranjo de casamento anterior que Ana tinha com o filho do Duque de Lorena eventualmente deu a resposta, uma complicada o suficiente para que os impedimentos restantes ao anulamento fossem removidos.
 O casamento foi dissolvido e Ana recebeu o título de "A Amada Irmã do Rei", duas residências e uma generosa pensão.
 Estava claro que o rei estava interessado em Catarina Howard, sobrinha de Tomás Howard, algo que preocupava Cromwell já que ele era um oponente.
 Cromwell enquanto isso caiu em desgraça apesar de não se saber exatamente o motivo, Cromwell estava agora entre inimigos na corte, com Howard conseguindo usar a posição de sua sobrinha.
 Ele foi acusado de traição, venda de licenças de exportação, concessão de passaportes e formação de comissões sem permissão, e também pode ter sido acusado pelo fracasso no casamento com Ana e no fracasso da política externa que isso acarretou.
 Cromwell acabou sendo preso e decapitado. Ele não foi substituído como Vice-regente em Espirituais, um cargo criado especificamente para ele

  • Catarina Howard

Catarina Howard em 1540 e Catarina Parr c. 1545, respectivamente a quinta e a sexta esposas de Henrique.
Henrique se casou com a jovem Catarina Howard, que também era prima e dama de companhia de Ana Bolena, em 29 de julho de 1540, mesmo dia da execução de Cromwell.
 Ele ficou absolutamente encantado com sua nova rainha, dando-lhe as terras de Cromwell e várias jóias.
 Entretanto, Catarina teve um caso com o cortesão Tomás Culpeper pouco depois do casamento. Ela empregou Francisco Dereham, com quem teve um caso e noivado informal antes de se casar com o rei, como secretário. A corte soube de seu caso anterior com Dareham enquanto Henrique estava fora; Cranmer foi enviado para investigar e levou evidências do caso de Howard e Dareham ao conhecimento do rei.
Apesar de Henrique inicialmente se recusar a acreditar nas alegações, Dareham confessou. Porém, foi apenas na reunião seguinte do conselho que o rei acreditou e teve um ataque de raiva, culpando o conselho antes de sair pra caçar.
 Catarina, ao ser questionada, poderia ter admitido ter um acordo anterior com Dareham, que faria com que seu casamento com Henrique fosse inválido, porém ela afirmou que o homem a forçou a ter uma relação adúltera. Dareham acabou revelando o caso da rainha com Culpeper. Os dois homens foram executados e Catarina foi decapitada em 13 de fevereiro de 1542.

  • "Rude Cortejo" e segunda invasão da França

Henrique c. 1540.
A aliança entre Francisco e Carlos se dissolveu em 1539, eventualmente degenerando até uma guerra. Com Catarina de Aragão e Ana Bolena mortas, as relações entre Carlos e Henrique melhoraram muito, com o rei inglês concluindo uma aliança secreta com o imperador. Ele decidiu intervir na Guerra Italiana ao lado de seu novo aliado. Uma invasão da França foi preparada para 1543.
Em preparação, Henrique moveu-se para eliminar a potencial ameaça escocesa sob o jovem Jaime V. Isso continuaria a reforma na Escócia, que ainda era católica, e Henrique esperava unir as duas coroas ao casar a filha de Jaime, Maria da Escócia, com Eduardo. Ele fez guerra contra os escoceses por vários anos tentando alcançar esse objetivo, uma campanha que ficou conhecida como o "Rude Cortejo".
A Escócia foi derrotada na Batalha de Solway Moss em 24 de novembro de 1542, e Jaime morreu menos de um mês depois. Jaime Hamilton, 2.º Conde de Arran, regente escocês, concordou com o casamento no Tratado de Greenwich em 1 de julho de 1543.
Apesar do sucesso na Escócia, Henrique hesitou em atacar a França, irritando Carlos. Ele finalmente seguiu em frente em junho de 1544 com um ataque em dois frontes. Uma força liderada por Tomás Howard cercou, sem sucesso, Montreuil. A outra sob o comando de Carlos Brandon cercou Bolonha-sobre-o-Mar. Henrique posteriormente assumiu o comando pessoal, com Bolonha caindo em 18 de setembro. Porém, ele havia recusado os pedidos do imperador para marchar contra Paris. A própria campanha de Carlos desandou e ele fez as pazes com a França no mesmo dia. Henrique ficou sozinho contra a França, incapaz de fazer a paz. Francisco tentou invadir a Inglaterra no verão de 1545, porém foi um fiasco. Com os dois reinos sem dinheiro, ambos assinaram o Tratado de Ardres em 7 de junho de 1546. Henrique garantiu a posse de Bolonha por oito anos, então a devolveu para a França por £750 000. Ele precisava do dinheiro; a campanha havia custado £650 000 e a Inglaterra estava novamente falida.
Enquanto isso, os escoceses repudiaram o Tratado de Greenwich em dezembro de 1543. Henrique lançou outra guerra contra os escoceses, enviando um exército para queimar Edimburgo e devastar o interior. Apesar disso, a Escócia não se submeteu. A derrota na Batalha de Ancrum Moor levou a uma segunda invasão. A guerra terminou nominalmente no Tratado de Ardres. Desordens na Escócia, incluindo intervenções tanto inglesas quanto francesas, continuaram até a morte de Henrique.

  • Catarina Parr

Henrique se casou pela sexta e última vez em julho de 1543 com Catarina Parr, uma rica viúva. Reformista, ela discutia sobre religião com o rei. No final, Henrique permaneceu comprometido com uma mistura idiossincrática de catolicismo e protestantismo; o estado de espírito reacionário que tinha ganhado terreno após a queda de Cromwell não eliminou seu traço protestante nem foi superado por ele.
 Parr ajudou Henrique a se reconciliar com suas filhas Maria e Isabel. Em 1543, o Terceiro Decreto de Sucessão colocou suas filhas de volta na sucessão, atrás de Eduardo. O mesmo decreto permitiu que ele determinasse a sucessão conforme sua vontade.

  • Declínio físico

Henrique em 1542.
Henrique se tornou obeso posteriormente em sua vida. Tinha uma medida de cintura de 140 cm e precisava se mover com a ajuda de invenções mecânicas. Era coberto por furúnculos cheios de pus e possivelmente sofria de gota.
 Sua obesidade e outros problemas médicos podem ter sido a causa do acidente de justa que sofreu em 1536, em que teve um ferimento na perna. O acidente reabriu e agravou um ferimento anterior que havia tido anos antes, a ponto de seus médicos encontrarem dificuldades em tratá-lo. 
O ferimento infeccionou  até ulcerar, algo que o impedia de manter o mesmo nível de atividade que costumava ter. Acredita-se que o acidente tenha sido a causa das mudanças de humor de Henrique, que podem ter tido grande efeito em sua personalidade e temperamento.
A teoria que Henrique sofria de sífilis foi desmentida pela maioria dos historiadores Uma teoria mais recente sugere que seus sintomas médicos são característicos de uma diabetes mellitus tipo 2 não tratada.
 Como alternativa, o padrão de gravidezes de suas esposas e sua deterioração mental levaram alguns a sugerirem que ele poderia ser Kell positivo e sofredor da síndrome de McLeod.
 De acordo com outro estudo, o histórico do rei e morfologia de seu corpo eram provavelmente o resultado de uma lesão cerebral traumática após o acidente de justa de 1536, que por sua vez levou a causa de sua obesidade neuroendócrina. A análise identifica deficiência no hormônio de crescimento como a fonte de sua adiposidade cada vez maior e também suas mudanças significativas de comportamento em seus últimos anos, incluindo seus múltiplos casamentos.
 Outra teoria diz que esses danos cerebrais possivelmente foram causados por outros dois incidentes: o primeiro em 1524 quando uma lança perfurou seu capacete durante uma justa e segundo no ano seguinte quando o rei bateu de cabeça no chão ao tentar cruzar um riacho com uma vara. 
Alguns dos efeitos colaterais de uma lesão cerebral incluem deficiência hormonal e hipogonadismo, que podem criar disfunções metabólicas e impotência sexual e explicariam seu aumento de peso e dificuldades cada vez maiores de ter relações com suas esposas.

  • Morte

Caixões de Henrique VIII (centro), Joana Seymour (esquerda) e Carlos I com um filho de Ana (esquerda) na sepultura embaixo do coral da Capela de São Jorge, marcados por uma laje de pedra no chão. Desenho de Alfred Young Nutt em 1888.
A obesidade de Henrique acelerou sua morte aos 55 anos de idade, em 28 de janeiro de 1547, no Palácio de Whitehall, naquele que teria sido o nonagésimo aniversário de seu pai. 
 Seu caixão foi velado no Mosteiro de Sião, no caminho para a Capela de São JorgeCastelo de Windsor
 Henrique foi enterrado em uma sepultura na Capela de São Jorge ao lado de Joana Seymour.102 anos depois, em 1649, o rei Carlos I foi enterrado na mesma sepultura.

  • Sucessão

Após sua morte, seu único filho homem herdou a coroa como rei Eduardo VI. Já que Eduardo tinha apenas nove anos de idade, ele não podia exercer o poder. 
O testamento de Henrique nomeou dezesseis executores para servirem em um conselho regencial até Eduardo completar dezoito anos. Os executores escolheram Eduardo Seymour, 1.º Conde de Hertford, irmão mais velho de Joana Seymour e tio do novo rei, para ser Lorde Protetor do Reino. 
Caso Eduardo não tivesse herdeiros, o trono passaria para Maria, filha de Henrique e Catarina de Aragão, e seus descendentes. 
Caso Maria não tivesse filhos, a coroa iria para Isabel, filha de Henrique com Ana Bolena, e os herdeiros dela.
 Finalmente, se a linhagem de Isabel fosse extinta, o trono inglês seria herdado pelos Grey, descendentes de Maria, irmã mais nova de Henrique. Os descendentes de sua irmã Margarida, os Stuart da Escócia, foram excluídos da sucessão. Entretanto, Jaime VI da Escócia herdou a Inglaterra após a morte de Isabel em 1603.

  • Imagem pública

Partitura de "Pastime with Good Company", composta pelo rei c. 1513.

Henrique era um intelectual. Foi o primeiro rei inglês com uma educação humanista moderna, escrevia e falava em inglêsfrancês e latim, e sentia-se completamente em casa com sua biblioteca bem abastecida. Ele pessoalmente fazia anotações em muitos livros e escrevia e publicava seus próprios. Para promover o apoio público à sua reforma da igreja, preparou inúmeros panfletos e palestras. Por exemplo, Oratio, de Richard Sampson, era um argumento para a obediência absoluta à monarquia e afirmava que a igreja inglesa sempre havia sido independente de Roma.
 Em nível popular, companhias teatrais e de menestreis fundadas pela coroa viajavam pelo reino para promover as novas práticas religiosas: o papa e padres e monges católicos eram ridicularizados como demônios estrangeiros, enquanto que o rei era exaltado como um corajoso e heroico defensor da verdadeira fé
 Henrique trabalhou arduamente para apresentar uma imagem de autoridade incontestável e poder irresistível.
Sendo um homem grande e forte (tinha mais de 1,80 m de altura e bem largo), Henrique era ótimo em justas e caça. Além de passatempos, também eram dispositivos políticos que serviam para vários objetivos, desde enaltecer sua imagem real atlética para impressionar governantes e emissários estrangeiros, até transmitir sua habilidade de suprimir qualquer rebelião. 
 O rei aposentou-se das justas em 1536 depois de seu grave acidente, porém continuou a patrocinar dois suntuosos torneios anualmente. Henrique então começou a ganhar peso e perder a imagem atlética e elegante que o fizeram tão atraente; seus cortesãos começaram a se vestir com roupas bem acolchoadas para emular e até lisonjear seu monarca cada vez mais robusto. Ao final de sua vida sua saúde piorou devido à alimentação pouco saudável.

  • Finanças

Moeda coroa de ouro de Henrique, cunhada c. 1544–1547.
O reinado de Henrique foi um quase-desastre em termos financeiros. Apesar de ter herdado uma economia próspera (aumentando ainda mais seu tesouro confiscando as terras da igreja), seus grandes gastos e longos períodos de má administração danificaram a economia.
 Tinha mais de duas mil tapeçarias em seus palácios – por comparação, Jaime V da Escócia tinha apenas duzentas.
 Orgulhava-se de exibir sua coleções de armas, que incluíam exóticos equipamentos de tiro com arco, 2.250 peças de artilharia e 6.500 armas curtas.
Ao contrário de Henrique VII que havia sido frugal e cuidadoso com o dinheiro, Henrique VIII investiu enormes fortunas. Esse dinheiro foi estimado em £1.250.000 (£375 milhões em padrões atuais)
 Muito dessa riqueza foi gasta para manter a corte e criadagem, incluindo muitos dos trabalhos de construção que ele realizou nos palácios reais. Os monarcas Tudor tinham que financiar os gastos do governo com suas próprias rendas. Essa renda vinha das terras da coroa que Henrique era dono além de impostos como os impostos aduaneiros, garantidos pelo parlamento por toda a vida do rei. Durante seu reinado as rendas da coroa permaneceram constantes em por volta de cem mil libras,
porém foram afetadas pela inflação e o aumento de preços vindos com a guerra. Foi a guerra e suas ambições dinásticas na Europa que o fizeram acabar na década de 1520 com a fortuna reunida por seu pai. Apesar de Henrique VII ter pouco se envolvido em questões do parlamento, Henrique VIII tinha que pedir dinheiro ao parlamento, particularmente para conseguir subsídios para suas guerras. A Dissolução dos Mosteiros forneceu um meio de reabastecer o tesouro e a coroa acabou assumindo posse de terras monásticas de valor de £120 mil por ano.
 A coroa lucrou um pouco em 1526 quando Wolsey colocou a Inglaterra na padrão ouro, tendo desvalorizado o valor da moeda um pouco. Cromwell desvalorizou a moeda mais, começando na Irlanda em 1540. Como resultado, a libra inglesa ficou com metade do valor da libra flamenga entre 1540 e 1551. O lucro nominal foi significante, ajudando a nivelar os gastos com a renda, porém teve um efeito catastrófico na economia geral do país. Parcialmente ajudou a trazer um período de altas inflações a partir de 1544.

  • Reforma religiosa

Henrique é geralmente creditado por iniciar a Reforma Inglesa – o processo de transformação da Inglaterra de um país católico para um protestante – apesar de ser contestado seu progresso através da elite e das massas, com a exata narrativa não sendo totalmente aceita. Certamente em 1527, Henrique até então um católico obediente e bem informando, apelou ao papa pelo anulamento de seu casamento com Catarina.
 Nenhum anulamento foi conseguido em parte por causa do controle que Carlos V exercia sobre o papado.
A narrativa tradicional diz que essa recusa iniciou a rejeição de Henrique da supremacia papal (que anteriormente ele defendeu), apesar do historiador Albert Pollard discutir que, mesmo que não tivesse precisado do divórcio, o rei poderia ter rejeitado o controle papal por motivos inteiramente políticos.
Tomás Cranmer em 1545.
De qualquer forma, Henrique instituiu entre 1532 e 1537 vários estatutos que lidavam com a relação entre o rei e o papa e consequentemente a estrutura da emergente Igreja Anglicana O Ato de Supremacia de 1534 declarou que o rei era "o único Chefe Supremo na Terra da Igreja da Inglaterra" e o Ato de Traição de 1534 fazia a recusa do Juramento de Supremacia alta traição punível por morte.
 Similarmente, a aprovação do Decreto de Sucessão no ano anterior fez com que todos os adultos do reino fossem forçados a reconhecer por juramento as disposições da lei (declarando que o casamento de Henrique com Ana Bolena era legítimo e que a união com Catarina ilegítima); aqueles que se recusavam recebiam prisão perpétua e qualquer publicação de literatura alegando que o casamento com Ana era inválido estava sujeita e pena de morte.
 Finalmente, em resposta a sua excomungação, foi aprovado o Decreto do Óbolo de São Pedro, que reiterava que a Inglaterra "não tinha superior sob Deus, apenas sua Graça" e que a "coroa imperial" do rei havia sido diminuída pelas "usurpações e extorsões perversas e impiedosas" do papa. Henrique ainda tinha grande apoio da igreja sob a liderança de Tomás Cranmer
Para a irritação de Cromwell, Henrique insistia em tempo parlamentar para discutir as questões da fé, que ele alcançou graças a Tomás Howard. Isso acabou levando a aprovação do Decreto dos Seis Artigos, pelo qual seis grandes questões foram respondidas afirmando a ortodoxia religiosa, assim restringindo o movimento protestante na Inglaterra Seguiu-se os começos da liturgia reformada e o Livro de Oração Comum, que seriam completados apenas em 1549 no reinado de Eduardo VI.
 A vitória dos conservadores religiosos não levou a grande mudança de pessoal e Cranmer permaneceu como arcebispo
 De forma geral, o reinado de Henrique teve um sutil movimento para longe da ortodoxia religiosa, auxiliado em parte pelas mortes de proeminentes figuras anteriores a separação de Roma, especialmente as execuções em 1535 de Tomás More e João Fisher por recusarem-se a renunciar a autoridade papal. O rei estabeleceu uma nova teologia política de obediência à coroa que continuou na década seguinte. Ela refletia a nova interpretação do quarto mandamento ("Honra a teu pai e a tua mãe") por Martinho Lutero, levada para a Inglaterra por Guilherme Tyndale. A fundamentação da autoridade real nos Dez Mandamentos foi outra mudança importante: reformadores dentro da igreja utilizaram a ênfase dos mandamentos na fé e na palavra de Deus, enquanto os conservadores enfatizavam a necessidade da dedicação à Deus e de fazer o bem. Os esforços dos reformadores estavam por trás da publicação em 1539 da Grande Bíblia em inglês.
 Os reformadores protestantes ainda assim enfrentaram perseguições, particularmente sobre as objeções ao anulamento de Henrique. Muitos acabaram fugindo para o exterior onde enfrentaram mais dificuldades, como Tyndale que eventualmente foi executado e seu corpo queimado em nome do rei.
Quando impostos antes pagos a Roma foram transferidos para a coroa, Cromwell sentiu a necessidade de avaliar o valor tributável das vastas propriedades da igreja como estavam em 1535. O resultado foi um extenso compêndio, o Valor Ecclesiasticus

As reações à reforma foram divididas. As casas religiosas eram as únicas apoiadoras dos pobres, 

  • Exército

Armadura italiana de Henrique c. 1544.
Excluindo as guarnições de Berwick-upon-Tweed, Calais e Carlisle, o exército fixo da Inglaterra era formado por apenas algumas centenas de homens. Esse número cresceu pouco no reinado de Henrique.

Henrique é tradicionalmente creditado como um dos fundadores da Marinha Real. Tecnologicamente, ele investiu em grandes canhões para seus navios, 

A ruptura com Roma acarretou a ameaça de uma grande invasão francesa ou espanhola. Para prevenção, em 1538, Henrique começou a construir uma rede de defesas moderníssimas ao longo da costas sul e leste de Kent a Cornualha, utilizando materiais principalmente retirados dos mosteiros dissolvidos.
 Eles ficaram conhecidos os Fortes de Defesa. Ele também fortaleceu a já existente defesa costal em fortalezas como o Castelo de Dover, o Monte Bulwark e Forte Archcliffe, que ele visitou pessoalmente durante alguns meses para supervisionar